28 maggio 2007

Cade o Super Homem?

Quando eu disse que queria ir embora dessa cidade o mais rapido possivel, muitos, alias, quase todos diziam que eu era fresca e que estava com saudades do Brasil e por isso, depressiva por estar longe. Hoje, tudo o que eu falava ja ha 3 anos atras parece que esta se tornando um assunto mais publico. O Rafael comentou no post anterior que viu uma reportagem no Jornal da Record falando e mostrando as montanhas de lixo espalhadas pelas ruas de Napoli. Fiz uma busca no Google e encontrei uma materia que me fez chorar. Deu um aperto no peito ler que as crianças napoletanas desenham a cidade como sendo um lixo, usando palavroes e esperando por uma ajuda do super-homem. Eu quero que minha filha cresça num lugar, no minimo, limpo. Que possa sair para passear sem apontar pra todos os lados dizendo "mamma, cacca, cacca!" e fazendo cara de nojo porque eu ensinei a ela que em lixo nao se toca e nao se chega perto. Mas me expliquem como se faz para nao passar perto se ele esta por todos os lados por aqui? Eu quero que minha filha, quando esteja na escola e a professora peça para desenhar a rua dela, que desenhe flores com crianças brincando e segurando bexigas coloridas. Eu quero que ela fique longe do mau cheiro, longe de ratos e moscas vindos daquelas montanhas de lixo. Quero ensinar que lixo nao se joga no chao, mas impossivel em Napoli que voce sai tropeçando em tudo.
Sinto muito por quem nao tem a possibilidade de sair daqui. E de quem nao quer enxergar o que o mundo ja esta vendo. Essa cidade esta em emergencia. Esta um caos. E é uma pena porque Napoli em si é um paraiso terrestre. Vistas lindas para o mar, castelos fantasticos. Mas tudo, absolutamente tudo destruido pelos proprios moradores que nao respeitam nenhum tipo de regras. Essa cidade me da dor de cabeça. Barulho de buzinas, porque napoletano acha que buzinar, mesmo de madrugada é normal e obrigatorio. Barulho de gente gritando porque nao descobriram ainda que para chamar alguem que esta no quinto andar de um predio é mais facil ligar ou interfonar, barulho de fogos de artificio de madrugada varios dias da semana, na igreja, em comemoraçao aos santos. A poluiçao visual é outro problema. Catezes colados por todas as partes. Ate de ponta cabeça, um sobre o outro. Rasgados e abandonados nos muros, ha anos. Aqui na Italia é comum colocar cartazes do nome de quem morreu. Mas em outras cidades, tem um espaço especial para isso. Napoli tem esses cartazes colados em todos os muros. No banco, no muro do predio, nos postes. Um tremendo mal gosto.
Uma cidade completamente destruida pela falta de educaçao e bom senso das pessoas. Estradas todas cheias de buracos. Mas nao imaginem um ou outro buraco. Sao muitos, um atras do outro. A ponto de me fazer ter enjoos. E de estragar os carros. E por falar em carros, quem estiver por aqui pode reparar. A cada 10 carros que passam na tua frente, aposto que 9 sao destruidos. Alguma batida nao consertada ou ate placas coladas com durex. Um horror. Feio. Sujo.
Uma pena.
E a coisa esta tao feia que ate comer produtos daqui é perigoso. Dizem os jornais que a fruta e verdura estao contaminadas. Porque crescem na terra onde vaza o liquido do lixo. Que a mozzarela di Bufala, um dos principais produtos napoletanos (e delicioso) também esta contaminado. Porque a bufala come e vive na terra suja. Entao, caros, quando eu falo que nao gosto daqui porque é sujo, nao me venham dizer que sou fresca porque a coisa esta feia mesmo.
So sei que hoje, depois de 3 anos morando aqui, vou dar valor a Milano. Porque eu sei que nao é perfeita, eu sei que tem la os seus problemas, tem la as suas carencias, mas nada é tao estranho e bizarro como Napoli. A cidade do caos, a cidade sem regras onde um quer ser mais esperto do que o outro com uma ignorancia monstruosa e no final das contas, eles estao se comendo uns aos outros e deixando um futuro incerto e sujo sem nenhum valor para os proprios filhos.
Nao tenho raiva dessa cidade, tenho pena. E esperança. Quem sabe agora, com todas essas noticias sobre a emergencia lixo daqui, nao comecem a fazer alguma coisa. Seria. E urgente. Mudando também a mentalidade do povo que cobra dos outros, mas continua a jogar lixo nas ruas. Porque minha filha, a pessoa mais importante nesse mundo para mim, é Napoletana. Que no futuro ela tenha orgulho de falar da cidade que ela nasceu.
Quem duvida, por favor entre nesse site e veja o slide com 16 fotos. Reparem nas crianças saindo das escolas tampando o nariz ao lado das montanhas de lixo:
Leia também a noticia no site da G1, clicando aqui:
E tem mais, com fotos, aqui:
Acha pouco? Faça pesquisas voce mesmo no Google com "lixo Napoli". E nao me chame mais de fresca.

Do mar à montanha



Aproveitamos este final de semana como sendo o ultimo como moradores de Napoli. Final de semana que vem, Gianluca parte para Milano. Eu espero mais um pouco aqui ate o novo apartamento ser pintado e a mobilia chegar la.


Fomos sabado de manha para a praia aqui em Napoli mesmo. Foi muito divertido ver a Giulia no mar e brincando com a areia preta comum na Italia por ser areia vulcanica. Alias, ir a praia aqui na Italia é ainda muito estranho para mim. Tenho que esquecer a moda mar de Sao Paulo, onde so um shortinho com uma hawaianas e cara lavada esta bem. A italianada se veste no maior estilo perua, com direito a salto alto e fino, muita maquiagem no rosto e parecem ter acabado de sair do cabelereiro. Para entrar na praia, é preciso pagar. Nesse lido que fomos, pagamos 10 euros por pessoa.



Almoçamos por la mesmo, fomos para casa dos meus sogros porque o Gian queria assistir ao jogo do Napoli com o pai. Voltamos pra casa, nos arrumamos e fomos jantar num restaurante com a Mila e familia. Chegamos em casa a 1h da manha. Exaustos, mas contentes.



No domingo cedo, fomos ate a Oviesse de Afragola para comprar alguma coisa com o bonus de 14 euros que ganhamos nas ultimas compras la. Como nao tinha nada de bonitinho pra Giulia, comprei uma blusa para mim e paguei a diferença de 3 euros. Fomos almoçar e de la, pra casa da Luci em Avellino. Fomos juntas ate o alto da montanha onde tem um espaço lindo cheio de cavalos para as crianças brincarem. Giulia adora andar de charrete mas tem medo do Ponei.








A noite, ainda na casa da Luci, comemos uma pizza, Giulia brincou bastante com a Sofia e ganhei um monte de roupas que nao serviam mais na Sofia. Giulia agora, graças a minha queridissima amiga esta com o armario de verao cheio de vestidinhos, calças e blusinhas maravilhosos e com um armario de inverno ja pronto com jaquetas fofas e quentinhas. (Obrigada Luci!)

E nos, agora ja estamos prontos para deixar Napoli. So nao sei se vai deixar saudades ou nao.

25 maggio 2007

CV

A Meiroca fez uma pergunta atrasada e acabei nao respondendo. La vai!
Paula, voce è parente de alguém do meio artistico no Brasil?
Nao. Comecei a carreira no meio artistico quando ainda era vendedora de uma loja de bijouterias no Shopping Iguatemi em Sao Paulo. Depois de algum tempo trabalhando la, indiquei uma amiga para a dona da loja, Beth Salles, para trabalhar como assessora de imprensa. Essa minha amiga, Andressa, ia em produçoes de TV levar as peças para apresentadores em troca de creditos (aquele agradecimento no final do programa). Comecei entao a trabalhar com ela. Larguei o emprego de vendedora e começamos a atender outras marcas. De la, fui trabalhar na produçao de um programa de TV. Eu era a responsavel por "caçar" festas de famosos para fazer a cobertura. Numa dessas festas, depois de alguns anos, conheci a Carla Peres. Comecei a trabalhar pra ela organizando, sozinha, todos os desfiles da marca de roupas infantis, a CP Girls e shows. Ao mesmo tempo, trabalhava também com o assessor dela, o Ricardo Leonavicius que também atendia varios outros artistas. Em paralelo a tudo isso, ainda organizava festas de aniversario, apresentaçoes e lançamentos de produtos de celebridades.
Conheci e fiz amizade com muitos deles e assim conseguia mais trabalhos. E ia me mantendo sozinha. De la pra ca, passei pela agencia Caminho das Pedras, Sinergia, CMB Celebrities ate parar na minha propria, a Kiwi que era responsavel pelo marketing promocional do Pizza Hut.
Posso dizer que ja me estressei muito por trabalhar com famosos. Mas hoje, ainda tenho otima amizade com muitos deles, faço uns trabalhos com eles aqui na Italia e sinto uma saudade enorme de tudo o que passou.
Ate porque é mais facil aguentar um piti do Zeca Camargo ou da Sheila Carvalho ou ate mesmo o mal humor do Miguel Falabella do que aguentar minha sogra!

24 maggio 2007

Cadelinha

Uma das piores coisas que tenho que suportar por morar fora do meu pais e longe da minha família e amigos é brigar com a família do Gianluca. Ontem, numa nova discussão na casa dos meus sogros, me irritei, quebrei o pau com todos e senti uma enorme vontade de ir embora com minha filha. Não sei se pra sempre. Acho que só por uma noite. Só por aquela noite. Num momento de raiva, o melhor que se tem a fazer é sair de perto das pessoas que estão te incomodando e ir pensar. Ou se distrair. Conversar. Com pessoas que você tem a certeza que te amam. Mas não. Se eu saísse de la ontem, pra onde iria?
Se eu quisesse voltar pra minha casa, teria que pedir uma carona pro Gianluca. Mas eu estava muito nervosa para pedir algo a ele.
Se eu quisesse fugir para a casa da minha mãe, teria que antes esperar uma agência de turismo abrir e comprar 2 passagens para o Brasil.
Se eu quisesse ir a casa de alguma amiga ou parente, no mínimo um trem. E era tarde demais para fazer isso com uma criança no colo.
Ai o que me resta é abaixar a voz, lavar o rosto, respirar fundo e continuar la. E depois ainda sentar na mesa com eles e jantar. Com o rabinho entre as pernas.

23 maggio 2007

Meias palavras

Eu odeio indiretas. Uma das coisas que tornam minha sogra uma pessoa desagradável é a quantidade de indiretas cretinas que ela me da. Prefiro que as pessoas sejam claras naquilo que estão falando, prefiro conversar e não ser testada com minhas respostas.

Na terça ela veio me buscar em casa para irmos juntas ate a Chicco.
- Paula, tem vento.
- Ah. Que bom... Assim refresca um pouco.

- Mas tem vento...

- Que bom, sogra!

- Vento não é bom, da tosse.

- Poxa, eu adoro vento.

- Mas é perigoso.

- Porque?

- Porque se você suar, pode se resfriar.

- Ah! Eu acho que se eu suar e pegar um vento, me refresco.

.....

- Paula, você esta pronta?

- Sim.
- Pegou o casaco da Giulia?
- Não.
- Mas tem vento.
Queridos, não é mais fácil, mais pratico e mais agradável se ela me poupasse de tanta discussão dizendo somente uma única frase: "Paula, acho melhor levar um casaco para a Giulia"???
Ainda aqui em casa, enquanto eu estava me arrumando e ela segurando a Giulia, ouço:
- Giulia, vamos, vamos! O nonno esta esperando no carro.

Eu fiquei quieta e fiz de conta que não ouvi. Ela continuou, falando ainda mais alto:
- Giulia!!! Onde esta o nonno?? Esperando la fora no carro??? Vamos ver o nonno? Estamos prontas!

Ainda fiquei em silencio, quando ela chega perto de mim e pergunta:

- Paula, falta muito?

Não seria mais adulto da parte dela se ela diretamente falasse comigo numa única frase: "Paula, vai logo porque o Luigi esta esperando no carro."?
Chegando na Chicco, no parquinho com brinquedos para bebes que tem no segundo andar, tirei a sandalia da Giulia porque é proibido brincar de sapato. Ela olha para a Giulia e diz:
- Voce esta descalça!
Eu fico quieta sem ainda perceber o que ela esta tentando me dizer.
- Sera que essa piscina de bolinhas nao machuca o pé?
Ouço entao a risada de uma outra mae que logo disse a minha sogra que a piscina de bolinhas é feita para os bebes brincarem descalços e nao poderia de modo algum fazer mal aos pés. Enquanto meu sogro cuidava da Giulia, fomos ate a lojinha da Chicco. La, minha sogra pega um par de meias na mao e diz:
- Paula, voce gosta dessas meias para a Giulia?
- Sim. Mas ela tem muitos pares de meia em casa. Nao precisamos comprar.
-Tem certeza?
- Sim. Porque?
- Porque todas as crianças estao no parquinho com meias. So a Giulia esta descalça...
- E ai?
- E ai que a gente entao poderia comprar essas meias.
- Porque?
- Para colocar na Giulia. Pode fazer mal aos pes dela brincar descalça.
- Ah é? Eu adoro ficar descalça e acho que faz bem aos pés.
- Mas as outras maes podem achar que voce é mae desnaturada por deixar tua filha descalça.
Ai eu pergunto: O que voce pode esperar de uma pessoa que acha que o peixe respira por um canudinho?

Festa do Nome

Aqui na Italia, principalmente no sul, as pessoas costumam comemorar, dando ate mais importância do que o próprio aniversario, a festa do nome. Onomastico. Cada um tem o seu, conforme o santo com o mesmo nome. O meu seria comemorado no dia do Santo Paolo, mas não dou a menor importância para isso. Besta eu, que expliquei para todos daqui que não gosto dessa historia e acabei perdendo a oportunidade de ganhar presentes nessa data. Ja com a Giulia fui mais esperta. Falei que queria sim comemorar. E ontem foi a festa dela. Dia de Sta. Giulia. Repito que acho uma tremenda bobagem. Uma porque não gosto muito dessa historia de Santo. Outra porque não dei o nome Giulia para minha filha por causa de nenhuma Sta. Giulia. Mas enfim, mesmo sem ter sangue brasileiro nas veias, mas tendo nascido e morando no Brasil por 25 anos, tenho sempre um enorme prazer em comemorar. E festa, é comigo mesma!
Ontem Stefania veio em casa e trouxe para a Giulia uma poltrona-cama do Ursinho Puff e um tapete de borracha super bonitinhos. Depois fomos com sogra, sogro e Gianluca ate a Chicco em Afragola. Ela se divertiu na piscina de bolinhas e nos escorregadores macios, junto com outras crianças que estavam la. Fomos também na Oviesse e a Santa Sogra comprou varias roupinhas novas de presente para a Giulia. Por fim, fomos jantar numa pizzaria por la mesmo e por sorte tinha uma outra menina da mesma idade da Giulia que passaram um bom tempo brincando juntas.
Quer fazer festa você também e não sabe o dia do teu onomastico? Tem uma listinha AQUI.

21 maggio 2007

Milano, Ti amo!

Na quinta feira pegamos um trem as 8h30 da manha, rumo a Milano. A viagem foi longa. Nao so pelo atraso de 50 minutos por causa de uma falta de energia na estaçao de Villa Literno, nem pelas seis horas e meia de viagem, nem por ter a Giulia o tempo todo no colo e tao pouco pelo Gianluca, o Sr. Reclamao comigo, mas quebrei meu dente. Mas nao um dente qualquer. O dente da frente. Mordendo um sanduiche que eu mesma fiz as 7hs da manha para nao ter que gastar dinheiro com almoço dentro do trem. E segui viagem com aquela janelinha no sorriso que eu evitava dar. Chegando la, com dente quebrado, morrendo de vergonha, fomos para o escritorio do Gian. Conheci os diretores da empresa e os colegas de trabalho do Gian e por sorte a secretaria marcou uma consulta com o dentista dela para mim no dia seguinte, pela manha. No final da tarde fomos ver um apartamento em Buccinasco, cidadezinha vizinha a Milano.
Os donos do apartamento, uma mulher de uns 40 anos, loira, com roupas estranhas e o homem da mesma idade, também vestido estranho, ambos pessoas estranhas, nos acompanharam tentando me convencer a alugar aquilo. A cidade é linda, cheia de parques e lagos, mas nada a mais do que isso. Nao se ve voar uma mosca. Nao se ve uma pessoa na rua. Muita paz pro meu gosto. Sem contar que o apartamento é no terceiro andar e eu tenho horror a altura. Nao por mim, mas pela Giulia que nao poderia brincar tranquila na varanda, ja que aqui nao existe proteçao em tela para janelas.
Saindo desse apartamento, eu sem metade de um dente, Giulia toda suada e suja depois de uma viagem longa e cansativa, ainda fomos jantar num restaurante com o chefe e a diretora do Gian, ouvindo a moça me chamar o tempo todo de Daniela e ao Gian de Carlo. Carlo é o colega de trabalho do Gian, mas Daniela? Chi cavolo é Daniela???
Acordei as 6hs da manha. Agitada e preocupada para encontrar uma casa. E triste em nao ter metade de um dente. O hotel que ficamos era bonitinho, mas numa avenida muito movimentada e tive dificuldade em dormir com barulho de carros a noite inteira. Sempre melhor, obvio, do que dormir com a velha do apartamento de cima ao meu em Napoli. E sempre melhor do que dormir com gente gritando de uma janela a outra. Barulho de carro em Milano tem e muito, mas o transito, apesar de ser intenso, é extremamente organizado e silencioso. Nao se escuta uma buzina. Nao se escuta gritos.
Fomos as 11h30 ao dentista. Um consultorio limpo, lindo. Decorado, cheio de televisoes de plasma com videos de tratamentos esteticos dentarios. Para entrar na sala, era preciso colocar uma sapatilha de plastico. O dentista muito educado e competente, explicava tudo o que estava fazendo. Me acalmava. Conversava. Em italiano. Aqui em Napoli, os consultorios sao velhos, sujos. Os dentistas falam em dialeto napoletano, se ofendem se voce faz uma pergunta e nao sabem a diferença entre ser dentista e ser açougueiro. Enfim, consertei meu dente e sai de la, alegre e sorrindente.
De la, fomos ver um outro apartamento que o Gian ja tinha visto e pela descriçao dele, eu nao gostava. Nao pelo apartamento em si, mas por ser um predinho familiar. Varios apartamentos que vivem filhos e netos do proprietario. E outros 3 apartamentos alugados para pessoas de fora. O meu medo era que esse proprietario fosse uma pessoa invadente. Daqueles que vem em casa controlar se esta tudo em ordem e que toca a campainha cobrando o aluguel. Mas, conhecendo aquele senhor tranquilo e simpatico pessoalmente, vi que seria ate agradavel morar la. Conversamos com a familia que ainda mora nesse apartamento que esta para alugar. Pessoas super satisfeitas com tudo, mas que vao embora porque compraram casa ali perto.
O predio tem uma area verde enorme. Cheia de plantas, horta, churrasqueira, cadeiras de balanço ao sol. Garagem interna. Um cartaz proibindo as crianças de jogarem bola. Bem diferente de Napoli onde todos os dias tenho que gritar com as crianças mal educadas que pensam que a minha janela é o gol. O apartamento é lindo. Precisa so de uma mao de tinta. Dois quartos grandes, banheiro, cozinha a vista e sala.
Fui também conhecer o vizinho que o dono do predio indicou como pintor. Surpresa! Um brasileiro, casada com uma brasileira e um filho de 3 meses. Ambos de Santa Catarina. Uns amores. Mais um ponto positivo.
No sabado fomos dar uma volta pela cidadezinha. Corsico. Fica a 8km de Milano. Linda. Limpa. Estacionamos o carro na frente do predio e fomos a pe ate um parque. Brinquedos para crianças, um laguinho com patos e espaço para tomar sol. A Giulia se divertiu com as crianças de la e eu fiz amizade com um outro brasileiro, Marco, paulista e no Brasil morava no mesmo bairro que eu. Casado com uma italiana e pai de uma menina de 4 anos. Trocamos telefone e fiquei contente em ter feito mais uma amizade.
Perto do predio tem tudo. Restaurante, lojas, supermercado e farmacia. A escolinha é em frente, atravessando a rua. E o clube também. Com piscina e cursos gratis para pais e filhos. As pessoas andam a pé ou em bicicletas. Paz absoluta.
A tarde fomos passear em Milano. AMO aquela cidade. Gente normal. Gente de todos os paises, pessoas que fazem coisas normais sem se preocupar com o que os outros estao pensando. Muito, muito parecida com Sao Paulo. Nao no aspecto porque os predios sao mais antigos e bem mais baixos, mas digo no modo de viver. A cada esquina uma praça. Limpa. Desculpe ser repetitiva no aspecto de limpeza, mas Napoli é muito, muito suja e isso me assusta. Milano, ao contrario. Super bem cuidada, mesmo com tanta gente, nao vi um papel no chao. Fomos conhecer a Galeria e o Duomo. Lugares maravilhosos. Fomos jantar no Mc Donald's e ao lado da nossa mesa sentaram uma familia de Egipcios. Conversei bastante com eles. Fiquei contente em conhecer pessoas da mesma cidade onde meu pai nasceu, Cairo.
Nas mesas ao lado, muitos estrangeiros. Muitas pessoas de toda a Italia. Coisa que o Gian nao esta acostumado em ver. Porque em Napoli so tem napotano. E em Milano tem pessoas de todas as raças, de todos os credos e ninguem julga ninguem. Me senti em casa. Me senti bem, muito bem.
Nao é verdade que em Milano as pessoas sao frias. Ao contrario, sao educadas, simpaticas. Mas sabem ate onde podem ir. Em Napoli as pessoas sao mais invadentes. Fazem perguntas indiscretas. Mas sao bem mais mal educadas e frias. Em Milano, todos os lugares onde entrei e sai fui atendida com um sorriso no rosto. As pessoas puxam papo na fila, pedem desculpa se por acaso esbarram em voce na rua. Em Napoli parecem cavalos. Ou macacos. Diria ate gorilas.
A falta de respeito e ignorancia no sul da Italia é enorme.
Fomos também, durante esses dias, almoçar em um restaurante de uma senhora muito simpatica. Num desses dias ela me perguntou se eu era egipcia. Contei que meu pai era egipcio. Minha avo é egipcia e minha mae, italiana. Mas eu, brasileira, casada com um italiano, mae de uma napoletana. Passamos horas conversando sobre o Egito, sobre a historia da familia dela, da minha e me senti muito proxima ao meu pai. Como eu gostaria de ter ligado pra ele para contar os tantos egipcios que conheci. E de como sao simpaticos, inteligentes e cheio de alegria no rosto. Como minha avo Nicette.
Voltamos para Napoli no domingo, me irritei ja ao chegar e ver as montanhas de lixo, as crianças no predio fazendo da minha janela o gol e das escadas do meu predio o lugar de gritar. Me irritei com a vizinha que continua andando ate tarde da madrugada com o sapato barulhento, com o supermercado e farmacia que vendem coisas vencidas e com a gritaria desse povo. Mas meu coraçao se enche de alegria so de pensar que faltam 10 dias pra finalmente começar uma vida normal. Com gente normal. E finalmente, no primeiro mundo.
Milano, ti amo.

14 maggio 2007

Dialogos com a sogra - 2

- O peixe esta morrendo!
- E o que voce vai fazer, Paula?
- Vou colocar agua mineral. Acabei de falar com meu irmao pelo telefone, ele entende de peixes, sempre teve aquario. E falou que a agua tem que ser fervida antes de colocada no aquario.
- Ah.. entao tem que colocar agua quente?
- Nao sogra... A menos que voce queira cozinhar o peixe. A agua tem que ser fervida e depois esfriada, antes de colocar o peixe. Mas como a agua aqui tem muito calcio, vou colocar agua mineral.
....
- Olha so.. O peixe parece estar bem melhor, Paula.
- Pois é... Mas acho que mesmo com a agua mineral, ele nao vai aguentar... Ficou muito muto tempo sem oxigenio. O ideal seria colocar uma daquelas bombinhas de ar dentro do aquario.
- Paula?
- Sim.
- Tive uma ideia... Porque voce nao coloca um canudo dentro do aquario? Assim ele pode respirar pelo canudo.

Feliz dia das Maes!




So agora eu entendo muitas coisas que antes, sem ser mae, nao poderia nunca entender. So hoje eu entendo o quanto é dificil ser mae. Começa da gravidez. Passar 9 meses enjoando, fazendo exames, organizando a casa e a vida em funçao ao bebe que vai nascer, parir. E nem ter tempo de se recuperar porque ja precisa amamentar, se preocupar com a saude do teu filho, alimentar, limpar. Lavar roupa, passar roupa, tirar o po da casa, viver a vida dele e nao mais a tua.


Depois eles crescem e voce nao mais precisa trabalhar para comprar roupas e pagar as contas. Voce precisa pagar as contas dele, comprar coisas pra ele, antes mesmo de pensar em comprar pra voce. Se preocupa com o futuro dele. Do teu filho. Tua vida a partir do momento em que ele nasce, muda completamente. E voce faz tudo isso sendo a pessoa mais feliz do mundo, so por ter um filho. Alguem que voce gerou.


So hoje eu entendo o quanto fui malvada com minha mae. Mas o quanto aprendi com tudo isso. Na infancia acho que fui boazinha. Mas depois dei muitas preocupaçoes. Porque quando se é adolecente nada tem limites e é ela, a mae, que vai se preocupar por voce e ainda se passar por chata.


Mae, desculpa por ter voltado a pé de madrugada da balada, desculpa por ter mentido que ia viajar com os pais da minha amiga e ter ido so com minha amiga, desculpa por ter falado que ia assistir aula e ter voltado pra casa com amigas para beber Martini vendo um filme em plena manha. Desculpa por ter mentido varias vezes, desculpa por ter cobrado coisas que voce nao podia me dar. So agora eu entendo.


Infelizmente, perdi meu pai. Mas tenho a sorte de ter uma mae. Que mesmo de longe, esta sempre presente. Seja por email, seja pela webcam ou telefone. Esta sempre aqui. E agradeço muito por ter estado sempre ao meu lado. Nas horas em que mais precisei. Pode ter certeza que hoje, depois de perder o papai e tendo a minha propria familia, dou muito mais valor a voce. Porque voce passou anos da tua vida cuidando de mim e do meu irmao e agora é hora de nos começarmos também a pensar em voce. Daquilo que voce precisa e retribuir tudo o que voce nos deu.


E mae entende tudo. E peroda tudo. Ate um post de Feliz dia das Maes atrasado. Mas com todo meu amor e toda a minha gratidao.


Paula


11 maggio 2007

Teletransporte

Como estou arrependida! Deveria ter ligado pro papa essa semana e ter pedido uma carona pro Brasil. Nao custaria nada. Eu poderia ate ter ido fazendo massagem nos pés dele durante toda a viagem. Poderia ter servido cafezinho, poderia ter usado meus conhecimentos de italiano e portugues para fazer a traduçao simultanea, poderia ate me converter ao catolicismo. Tudo, faria tudo para ter ido com ele. Saindo do aviao eu entraria no mesmo carro, iria passear um pouquinho pelo centro da cidade, mataria a saudade da 25 de março, compraria uns tenis falsificados pra trazer pra ca (porque eu também sou filha de Deus) e mil bijouterias, enquanto ele fazia o que deveria fazer no mosteiro de Sao Bento. Depois ainda pegaria uma carona pro estadio do Pacaembu e de la, iria a pé, andando por 5 minutinhos ate chegar na casa da minha mae. Eu e a Giulia. E da casa de minha mae, nao iriamos mais embora. Nem que o papa viesse implorar pra voltar com ele para a Italia. Eu diria nem a pau! Ninguem nos tira mais daqui. Me esquece!
Eu sou uma chorona. Daquelas que se emocionam com propaganda ate de margarina, sabe? Mas sou chorona timida. Choro pra dentro. Ninguem ve minhas lagrimas porque tenho que dar uma de Gostosona Sou Forte Pra Caramba! Ontem, quando fui dormir, nao sei porque liguei a TV. E la fiquei ate tarde da madrugada, encantada, chorando por dentro, vendo o papa no Brasil. Nao, nao... Nao pensem que estou louca. Nao me emocionei pelo papa. Me emocionei em ver o estadio do Pacaembu, em ver a vista aerea do bairro onde eu nasci e cresci, os comentarios e elogios da jornalista para o meu bairro. Ver a minha gente abraçando o papa. Beijando. Gritando como se estivessem em um show dos Rolling Stones. Isso é muito lindo. Um europeu nunca faria tanta festa. Tive a mesma sensaçao de quando era criança e queria por que queria conhecer a Xuxa. Entao, eu, pequena e inocente, imaginava como seria se pudesse entrar na TV. Ontem, ja adulta e nao tao inocente, também tive vontade de entrar na TV. Mas nao pra conhecer o Papa. Queria so sair da Italia e chegar em menos de 1 minuto no Pacaembu. E correr, correr chegando na Rua Tupi, ali pertinho. Deitar na cama da minha mae, com ela perto e ver meu irmao chegar. Ele pegaria a Giulia e tenho certeza que passaria horas brincando com ela como so ele sabe brincar com crianças. E eu estaria tao completa e tao feliz que acho que choraria de verdade. Mas sem vergonha e com lagrimas escorrendo no rosto.
SAUDADES!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

10 maggio 2007

G-R-A-Z-I-E. repita comigo: Grazie!

Eu saio do mercado, da loja, da banca de frutas, do escritorio de alguem, da casa de alguem que me ofereceu um jantar ou ate mesmo um café, do carro de alguem que me deu carona, dizendo "grazie" (obrigada).
As pessoas, na maioria das vezes, me olham assustadas. Devem pensar que eu sou doida por agradecer algo. Mas nao perco e nem quero perder esse costume. Porque mamae me deu educaçao, coisa que falta no crescimento dos pequenos daqui. Pesquisas revelam que as crianças italianas sao as mais mal educadas da Europa. E eu garanto que sao mesmo.
Mas voltando ao assunto, sinto uma falta danada de poder agradecer em liberdade e principalmente em ser agradecida.
Hoje por exemplo, ajudei minha sogra. Ela é costureira por paixao. Trabalha quase de graça para uma boutique fazendo ajustes das roupas de alta costura e faz também panos de prato, aventais e coisas do genero para vender a pessoas conhecidas. Peguei uma sacola cheia dessas coisas que ela faz e levei na loja de uma conhecida minha que ficou com as peças para vender. Combinamos que uma vez por semana minha sogra passaria la para levar mais produtos e receber o dinheiro daquilo que for vendido.
Quando voltei pra casa, liguei pra Sra. Mal Humor. Vi que ela ficou contente, falou que vai ser bom receber um dinheiro a mais, combinamos de ir amanha juntas para ela conhecer a dona da loja. Mas desligou o telefone sem nenhum "obrigada". Sinceramente, nao sei como a pessoa tem coragem. Estou pensando em presentear a velha, no dia das maes, com um DVD do Teletubies, sabe? Aqueles bichinhos que ensinam aos bebes a dizer "oi", "tchau" e "obrigada".

09 maggio 2007

Oios vermelhos

- Gianlucaaaaaa!!!!!!! Nao sei porque voce sempre fica mudo quando esta com a Giulia.
- Ela esta chorando e eu estou fazendo "shhhhhhhhhh".
- Gianlucaaaaaaaaaaaaa kct!!!!!!!! Para de falar "shhhhhhhhhh". Canta alguma musiquinha!
- Di oios vermeios. De pelo branquino, oreias bem grangis, eu sou o coelino, sou muito assustado, com casca e tudo, ton grangi ela eraaaaaaaaaaaa... Fiquei barricudo.
- Hahahaahaha Gianluca! Se nao sabe cantar em portugues, canta em italiano!
- Eu so sei cantar em portugueis.

Mais!

Nurit perguntou:
Como você conheceu o Gianluca? No Brasil? Na Itália?
Nurit, maldita a hora que um dia conectei meu icq ha muitos e muitos anos atras. Diariamente vinham pedidos para adicionar varios italianos. Deve ser porque no meu perfil, na época, dizia que eu falava italiano. Nesse dia, nem lembro exatamente qual, chegou o pedido do Gianluca. Eu aceitei e começamos a conversar. Na época eu namorava e nem tinha interesse de trocar de namorado. Muito menos por um tao longe. Se nao me engano ele também tinha uma namorada. Conversavamos sobre tudo e eu adorava porque o italiano que eu falava era muito basico, por causa da minha mae e minha avo que falavam em italiano uma com a outra e também pelos parentes daqui que iam nos visitar no Brasil.
O tempo passou, eu terminei com meu namorado, ele com a dele. Nossas conversas agora ja nao eram mais so por icq. Tinha email e telefonemas diarios.
Um belo dia, mamae me convidou para passar ferias na Italia. Viemos pra ca, visitamos parentes e aproveitei para encontrar pessoalmente com o Gianluca. Ele foi me buscar em Ancona, passou uma noite num hotel e depois viemos juntos para Napoli passar um final de semana.
Começamos a namorar. Eu fui embora e depois de alguns meses, ele foi passar ferias no Brasil. Depois eu vim outras tres vezes em ferias. Fiquei hospedada sempre na casa dele, mas essa historia de ir e vir nao me agradava. A viagem cansava, custava e nao era legal namorar a distancia.
Eu morava sozinha em Sao Paulo. Tinha um bom emprego, estava crescendo muito na minha carreira. Nao pensei duas vezes. Larguei tudo. Inclusive meu pai que nao estava bem e vim. Se eu pensasse nao viria nunca. Sempre fui assim. Sempre agi com impulso, com coraçao e sem medo. Mas nao tinha nada a perder. Era uma garota, nao tinha filhos e queria viver no pais onde minha mae nasceu.
No começo alugamos um apartamento no Vomero. Aqui, eu trabalhava trazendo bailarinas brasileiras para espetaculos de samba. Mas logo parei quando uma delas começou a me trazer alguns problemas. Engravidei assim que cheguei, mas so descobri 3 meses depois. Gianluca e familia receberam muito bem a noticia, assim como minha mae. Quem mais se assustou foi meu pai, mas logo se acostumou com a ideia de ser vovo.
Como o apartamento do Vomero era pequeno demais, mudamos de casa para essa que estou hoje. Assim a Giulia tem o quartinho dela e bastante espaço para brincar.
Desde que eu vim, falava pro Gianluca que meu objetivo era ou voltar ao Brasil, ou mudar para uma cidade mais desenvolvida. E assim, 3 anos depois, estamos mudando para Milano.
Historinha super resumida, mas foi isso.
Rafael perguntou:
Qual seu intuito com o BLOG ?
Quando cheguei na Italia, adorava ler o blog de algumas meninas que moravam aqui. Lia principalmente o Pacamanca e o Boteco da Julie. Fiz amizade com a Julie e um dia, resolvi começar a escrever também. Ela me deu apoio e me ensinou a usar o blogger. Tomei coragem e escrevi. A principio era uma forma de aproximar minha familia, principalmente minha avo paterna (Nicette) ao meu dia a dia e da Giulia.
Com o passar do tempo, mais pessoas foram conhecendo e me incentivando a continuar. Um dia ainda vou transformar isso aqui num livro. Assim como um dia ainda vou plantar a arvore. Filha eu ja tenho. Mas ainda nao sei quando vou ter coragem.

08 maggio 2007

Respostas para todas as duvidas


Fla perguntou:
Ela sai de Napoli ou nao sai?


Sim, eu saio, Fla. Tudo em Napoli é muito lento. Quando aceitaram a proposta de transferencia do Gian, pensamos que seria tudo mais rapido. Mas o napoletano tem uma frase sempre pronta, na ponta da lingua que é o "mò vediamo", traduzindo do dialeto napoletano para o portugues, seria "veremos". Entao, Gianluca precisava encontrar casa. O diretor da empresa precisava contratar uma outra pessoa para ocupar o lugar do Gian entre varias outras coisas complicadas. E a resposta para tudo era "mò vediamo". O tempo passa e eles nao fazem nada. Mas, por sorte, ontem mesmo tivemos a resposta definitiva. Gianluva vai definitivamente dia 01 de junho. Eu devo ir depois de alguns dias, quando a casa ja estiver alugada.
Voces nao veem a hora, ne? Nem eu!

Stefania, Claudia, e Ed perguntaram:
Voce pretende voltar ao Brasil?


Nao sei. Essa pergunta nao sai da minha cabeça desde o dia em que coloquei os pés aqui. Adoraria voltar. Crescer minha filha ao lado da minha familia. Participar de almoços, conversas e ate briguinhas familiares me fazem uma falta danada. A felicidade do Brasileiro também. A liberdade que so Sao Paulo oferece, os amigos que eu deixei. O trabalho. A possibilidade de ter empregada, baba, comer em restaurantes quando voce nao esta afim de cozinhar, mesmo sem ser rico.
Por outro lado, acho que me acostumei com a Italia. A segurança, o sistema de saude, escolas boas e publicas, enfim. Pensando bem, acho que pra Giulia seria melhor viver aqui.
Mudar de pais, quando se é jovem, solteiro e sem filhos é facil. Eu fiz isso. Sem nem pensar muito. Ja agora teria que fazer uma separaçao dolorosa da Giulia com o pai. Teria que ter mil garantias nao so para mim, mas para a Giulia. E se antes, sozinha, poderia contar com o apoio da minha familia, agora sou eu quem tenho uma para criar. E nao aceitaria depender de ninguem.
Quem sabe um dia. Por enquanto, fico por aqui.


Maria Luiza perguntou:
Napoli é tao assustadoramente violenta como Rio e SP?


Nao. Definitivamente nao. Um dos meus maiores medos de voltar ao Brasil é a violencia. Depois de 3 anos em Napoli me acostumei a andar de carro com os vidros abertos e nao me preocupar em parar no sinal vermelho. Ando de onibus sem tanto medo. A pé a noite sem tanto medo.
Digo sem "tanto medo" porque claro que sempre tenho que tomar um certo cuidado. O risco maior é ser assaltada. Mas nao chegam ao absurdo de matar por pouco.
Dizem que Napoli é violenta, principalmente o centro da cidade e alguns outros bairros mais populares. Crimes acontecem sim, mas na grande maioria é culpa da mafia. Se matam entre eles e aqueles que nao obedecem as regras.
A mafia esta por toda a parte. Por exemplo para voce ter uma loja em Napoli é preciso pagar para a mafia. Vem um carinha na tua loja e diz que voce precisa pagar um X para ele para que ele garanta a tua segurança. Nao pagando isso, eles sao capazes de botar fogo, destruindo tudo o que voce contruiu. Tem um livro, chamado Gomorra que explica tudo o que acontece por aqui. Nao sei se ja foi lançado em portugues. Quem puder ler, vale a pena.

Luna perguntou:
Gostaria de saber qual é a visao dos italianos em relaçao as mulheres brasileiras.


Luna, depende do italiano. Tem italiano que conhece bem o Brasil. Mas nao so a Bahia. Nao so Fortaleza. Tem italianos que foram para Rio, pra SP, pra Brasilia, Porto Alegre, enfim. Esse italiano conhece a nossa realidade. Sabe que no Brasil tem prostitutas. Mas como em qualquer outro pais. Esse italiano, diferente daquele que nao conhece o pais, sabe que temos sim tecnologia ate em algumas coisas melhores do que a deles como nosso sistema bancario, por exemplo. Sabe que temos sim elevadores que comemos macarrao, que nao saimos de casa lutando contra tigres e espantando aves exoticas. O italiano que pensa que o Brasil é bunda, futebol e favela é aquele ignorante. E infelizmente a grande maioria. Para esses, se voce é homem, é um bom jogador de futebol. Se voce é mulher, com certeza sabe sambar e é p*t@.

Outro dia fui no açougue e o atendente me perguntou de onde eu vim. Quando disse ser brasileira ele falou que eu deveria entao estar bem aqui, ja que la so tem miseria. Muitos pensam que sou a pobre que casou com um italiano rico. Que engano.
Outros se assustam quando digo que sou brasileira.

- Como é possivel? - dizem eles. Voce é branca de olhos verdes! Brasileiros sao negros!

Agora te digo uma coisa. A baixaria que tem no Brasil nao tem em lugar nenhum. Aqui nao existe essa historia de sair, beijar nao sei quantos na mesma noite e de la ir direto pro motel. Sejamos razoaveis. Um italiano vai pro Brasil, vai a praia, sai pra dançar, no shopping ou onde quer que seja, encontra sempre uma menina disponivel para levar pra cama. Nao sei se é o clima quente, nao sei se culpa da cultura carnavalesca, mas é real. A atitude de meninas comuns, que nao sao prostitutas, mas sao faceis demais, é famosa aqui. A baixaria dai nao é bem aceita aqui. E assim, acabam pensando que todas as brasileiras sao assim.

Tia Neide perguntou:
Qual é o tratamento usado em Napoli para gripe? Sua sogra tem alguma receita especial?


Gripe e fantasma aqui é a mesma coisa. Um assusta mais do que outro. Nunca vi povo tao medroso. O melhor, para o italiano e para minha sogra, é sempre previnir. Por isso nunca, mas NUNCA saia de casa com cabelo molhado. Alias, nao fique mais do alguns segundos com cabelo molhado. Mesmo nos meses mais quentes, tenha sempre um agasalho. Pode ter vento e voce, mesmo derretendo, precisa se agasalhar. Cuidado absoluto para nao suar. O suor com vento, da resfriado. Nao fique muito no mar ou piscina. Dez minutos no maximo. Nao ande nunca descalço. No inverno, antes de tirar a roupa para tomar banho, ligue o ventilador de ar quente no banheiro. Deixe sempre todas as janelas de casa fechadas e ligue o aquecimento ao maximo. Melhor sufocar em casa do que pegar uma gripe.
Mas se mesmo com todos esses cuidados, voce se resfriar, nao saia de casa gripado. Alias, nem mesmo depois que melhorar. Nao saia também da tua cama. Esforços sao proibidos. Responda sempre, quando alguem pergunta como voce esta, que esta muito, muito mal. Se nao, vao pensar que voce é doido. Italiano ama um drama. Por todos os dias que voce estiver gripado, nao tome banho. Italiano nao tem medo de ser fedido. Mas tem medo de gripe. Tome muito suco de laranja, se tiver febre use supositorios de tachipirina porque eles acham que enfiando aquilo por baixo o efeito é melhor. Nao tente entender, voce pode acabar descobrindo coisas estranhas.
Enfim, titia. To aqui gripada. Nao tem nenhum santo remedio. So acusaçoes do tipo: "Viu so? Porque voce sai com sandalia, porque voce lava o cabelo e nao seca imediatamente, porque voce nao se agasalha direito."
Prefiro as receitinhas milagrosas brasileiras. E recomendo.


Julie perguntou:
A Mila esta viva? Em coma? Inteira?

Apesar da vontade dar uns tabefes na minha querida amiga Mila, no dia em que me perdi indo para sua casa e ela nao atendia o telefone, nao fiz. Cheguei la suada, cansada, nervosa e encontrei ela pior que eu. Mila tem duas filhas pequenas. Uma de 3 anos e outra de 8 meses. Estava cozinhando para uma, tentando acalmar a outra, com a casa de cabeça pra baixo e disse nao ter nem visto o tempo passar. Ela nao tem telefone fixo em casa e o celular estava no banheiro. Nao ouviu tocar e de tanto que eu liguei acabou a bateria.

Foi divertido passar o dia com ela. Comemos uma pizza juntas, as crianças comeram presunto e macarrao com molho de tomate e brincaram a tarde inteira na varanda enorme do apartamento dela. Com vento. Deve ser por isso que dias depois, as duas ficaram com febre. Porque sabe como é, ne? O famoso "colpo d'aria" italiano é muito perigoso.


Cade as fotos do niver da Giu?


Pois é. Aconteceu que as pessoas entraram e pessoas sairam da festa o tempo inteiro. Eu e Gian nao paramos de abrir e fechar a porta. Uma verdadeira confusao. Nao demos atençao a ninguem e esquecemos de tirar fotos. Lembramos so na hora do bolo, e depois que a Giulia teve febre. Mas ai nem vale porque no começo da festa ela estava toda bonitinha e depois da febre ficou descabelada, com cabelo cheio de alcool que coloquei com um pano na testa e sem roupa.




Quando a gente se ve?

Corre, corre! Vem em casa urgente que a nossa mudança ja tem data marcada. Tenho mais 20 dias em Napoli. Vem almoçar aqui domingo?

Luciana perguntou:

Paula.. qdo vc. vem ao Brasil??
Estamos com saudades!!!

Palhaça do meu coraçao... Vamos fazer o seguinte? Organiza ai uma vaquinha. Preciso de duas passagens ida e volta Milano-SP-Milano. Se sobrar dinheiro, faço uma paradinha no Caribe. Topa?

Rafael perguntou:

Se um dia sua sogra cair na piscina e estiver se afogando ... oq vc faz ??? Vai ao Cinema ou a um restaurante ?


Rafa... Sabe... Como filosofia de vida mesmo... Eu nao mato nem uma formiga. Alias, salvo ate mosca do copo quando esta se afogando. Juro. Se eu salvo a mosca, porque nao salvaria minha sogra? E também, o que seria do meu blog sem ela?


Camila perguntou:

A sua bruxa, ops, sogra vai com voces pra Milao?

Vira essa boca pra la, menina! Nao, nao e nao! Mas sabe, sinto que estou errando tudo. Meu pai ja dizia: Nao more perto o suficiente da tua sogra para que ela possa vir a pé ate tua casa e nem tao longe que ela possa vir com as malas.

Moro na rua dela, pouquissimos metros de distancia. Ela realmente vem a pé. E em Milano, ela ja perguntou se vai ter sofa cama para ela vir passar uns dias em casa.

Voce ja cospiu na comida dela? Ou colocou um laxantezinho??
Haaahaaahaa!!! Boa ideia!!!!!!!!!

Sivia perguntou:
... acho os italianos divertidissimos , sempre mal humoradas , reclamam de tudo , mas eu sempre me divirto muito quando vou a Italia . Você não concorda comigo ?

Silvia... Oh povo pra baixo! Ultimamente ate me irrito quando dizem que italianos sao parecidos com brasileiros. Sao nada. A grande maioria é pessimista e acredita que, pra viver bem, é necessario sofrer. Isso é assunto pra um post. Mas eu também me divertiria com eles, morando no Brasil e vindo so passar ferias aqui na Italia. Como me divirto em ver peixinhos dentro de um aquario mas odiaria viver dentro dele, entende?


Fernanda perguntou:
Quando vc chegou rolou algum tipo de preconceito por ser brasileira?

Fernanda, sinto muito pelo que acontece com voce. Pra dizer a verdade nao sofro muito com isso. Porque minha mae é italiana, nascida em Valle d'Aosta. Quando digo que sou brasileira e filha de italiana, esse povo faz um suspiro de alivio. Como se eu estivesse sendo salva de alguma coisa. Tenho a cidadania italiana desde que nasci. No Brasil, ser metade italiana, metade egipcia era motivo de orgulho. Hoje tenho orgulho de ser brasileira. Gianluca nao tem paranoias do genero. Mas sinto que as pessoas ao meu redor sim. Sogra, sogro, porteiro e pessoas em geral. Nao com o fato de brasileira ser prostituta mas sim com extracomunitario que para os italianos, é sempre ignorante e inferior a eles. Nada do que eu vivi ou aprendi no Brasil, tem valor pra eles aqui. Minhas experiencias de vida, pra eles, nao vale nada. E isso me irrita e me chateia muito.
Eu acho que voce deveria ter uma boa conversa com teu marido. Porque é paranoia da cabeça dele e acaba te deixando paranoica também. Cante muito e por onde for e se um dia te encontrar, cantamos juntas.

Algo mais a perguntar? Continue aqui.
Beijos a todos.

04 maggio 2007

Aproveitem!

Vamos fazer o seguinte? Aproveitando que Giulia e eu estamos com febre e assim sem grandes novidades e aproveitando também que voces, queridos leitores me fazem sempre perguntas pelos comments e eu nunca respondo, vamos fazer um joguinho?
Voces fazem perguntas aqui nesse post, valendo tudo. Sobre a sogra, sobre Napoli, sobre Italia, sobre o que voces tiverem duvidas e eu respondo no post seguinte, ok?