17 agosto 2007

Py

Py,
Ha pouco tempo foi teu aniversario. Também a poucos dias, foi dia dos pais. Lembrei dessas datas com muito carinho e pensei mais do que nunca em voce. Sempre que penso, tenho um sorriso no rosto do jeito que voce gosta.
Se voce estivesse aqui, com certeza te daria, pela milesima vez, a camisa de manga curta lisa 100% algodao. E nao me arriscaria novamente a dar uma gravata ou uma camisa xadrez, apesar de adorar teus comentarios sarcasticos quando eu tentava mudar o estilo do presente.
Gosto muito de pensar em todos os otimos momentos que passamos juntos e penso sempre e diariamente no pai fantastico e perfeito que voce foi. E pego no pé do pai da Giulia, porque gostaria que ele fosse para ela o que voce é para mim. Impossivel... Acho que de tao perfeito que era, so poderia mesmo se transformar em um anjo que mora agora la no mar... Voce sabe que eu nao acredito muito nessas coisas, ne? Mas acredito que voce ainda exista. Pelo menos aqui dentro de mim esta mais vivo do que nunca e ainda conversamos tanto, nao é?. Voce sabe. Porque teu amor de pai e o meu de filha foi tao forte e intenso que te sinto ainda perto de mim.
Sabe Py, aprendi tanto com voce. Aprendi a nao julgar, a rir de tudo mas nao dos outros, a ter respeito pelas pessoas, a ouvir mais do que falar, a fazer mais do que pensar. E ser positiva, sempre. A tirar um barato da tragedia, a ver que ela nao existe se nao deixarmos ela existir. Acho que so tem uma outra pessoa que possa traduzir o que voce representa para nos e como voce era. Ela me mandou um email ja ha algum tempo atras, que dizia:
"Não sei se é pelo aniversário da Giulia, não sei se é só saudades,não sei,só sei que sinto muito sua falta para falar sobre o Dan.Não com melancolia ou tristeza só falar.Falar sobre o sorriso dele sem mostrar os dentes, falar sobre os comentários acídos e sempre bem humorados sobre as pessoas ou fatos, falar sobre como ele era culto sem ser chato, falar sobre como ele entendia as bobagens que as pessoas fazem e nunca recriminava ou julgava nada nem ninguem, falar como ele se bastava, falar sobre como ele sabia amar mesmo, sem esperar reconhecimento ou retorno, falar como ele era humano com todo mundo, falar sobre seus defeitos, falar sobre suas manias (demorei 10 anos para convence-lo que Vulcabras 757 não era o unico sapato do mundo,que dentista não era bicho-papão,que meia, sapato e bermuda não era lá muito elegante,que jogo de futebol não era tão chato assim como ele achava,que recibos devem ser guardados etc.),falar sobre sua coragem,falar sobre como ele tinha o dom de ensinar as pessoas sem discursos, falar como ele fui valente e integro, falar sobre sua fala mansa, falar sobre o olhar bravo dele quando a gente insistia em discutir quando ele estava com a razão, falar que há anos ele falava a respeito da falta d,agua no futuro, falar sobre as coisas que ele me ensinou .Falar sobre as pessoas e coisas que ele me dizia ser importante saber como ler Folha de São Paulo,Paulo Francis, ouvir Chico, Caetano,(Milton Nascimento não ele é muito chato dizia ele,nem Ivan Lins que segundo ele só sabia cantar Madalena...chato também)" Cris.
E é por isso que hoje, na data de 2 anos da tua partida, o que eu mais quero é sorrir, sem deixar ainda nenhuma lagrima cair porque sei que voce nao gosta. E animar ainda mais a minha voz. E levantar meu olhar, mas juro e te confesso, Py.... Hoje o que eu mais gostaria de gritar ao mundo, ate voce chegar é: EU QUERO MEU PAIIIIIIIIIIIIIII!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!