19 marzo 2007

San Giuseppe

Lembro com prazer da minha infância. Apesar da separação dos meus pais quando pequena, que eu me lembre, não sofri com isso, já que sempre tive meu pai presente em minha vida. Passava finais de semana na casa dele, com meus irmãos Tomas e Fábio, filho do segundo casamento do meu pai. Íamos a praia juntos, todas as quartas-feira saiamos para almoçar juntos no Mc Donald's e ele me ajudava a estudar quando tinha dificuldades na escola. Meu pai sempre foi mais do que um pai, era um verdadeiro amigo e oferecia sempre um colinho com massagens nos pés quando precisava.
Hoje aqui na Itália é dia dos pais, na verdade dia de San Giuseppe.
Mas já que a data não é a mesma ai no Brasil, deixo a sessão nostalgia pra la. Mas falando de infância e de Giuseppe, lembro mesmo é do meu avo. O nonno. O pai da minha mãe. Giuseppe.
Acho que estou aqui na Itália graças a ele. E quando penso nele, lembro logo de infância porque infelizmente ele passou pro lado de la quando ainda era pequena.
As recordações desse italiano, nascido em Valle D'Aosta são muitas. Fugindo da guerra, foi pro Brasil com a mulher (nonna Elia) e filhos pequenos (Ivonne, minha mãe e Silvio, titio). La, arrumou emprego, comprou casa e criou raízes.
Lembro dele como um baixinho nervoso, mas que me fazia divertir muito junto aos meus primos. Levava os netos para passar finais de semana na chacara e cuidava da horta como ninguém. Plantava, construía e ajustava o que estivesse quebrado.
Comia coisas absurdas que me fazem rir ate hoje como a sopa maravilha com vinho e nescau. Ovo cru, minutos após a galinha ter botado. Mas me assustava e criou traumas em mim. Sim, porque eu brincava com os coelhos que ele criava na chacara e depois tinha que ver ao assassinato dos coitadinhos com duas marteladas na cabeça. E ainda via ele tirando a pele do bichinho como quem tira uma calça. Mas depois ele tentava me consolar oferecendo o pezinho do coitado para fazer chaveiro. E o pior é que eu ficava contente. Tudo bem, nonno. Não tenho mais o coelhinho, mas posso brincar com o pezinho peludo e branquinho. O pior de tudo é que na hora do almoço eu tinha que comer o animalzinho. Sabe de uma coisa? Era bizarro. Mas era tão gostoso!
Lembro também de uma vez que estava com meus primos na varanda da casa maior na chacara. Roubamos uma lata de leite em pó e esperamos o momento dele passar em baixo, em direçao a horta. Jogamos todo o pó em cima do coitado, querendo imitar a neve. Na inocência da idade infantil, estávamos somente tentando fazer com ele se lembrasse dos velhos tempos em Chatillon, Aosta, cidade que ele nasceu e viveu por anos no meio de tanta neve. Historias que ele mesmo contava. Mas dai então foi só correria, meninos para um lado, meninas pro outro e ele atrás de todos com uma vassoura na Mao, ameaçando bater em todos.
Nonno Giuseppe, apesar de ser um pouco estouradinho, com certeza tinha um otimo coração. Adorava e ainda adoro ouvir as historias que a nonna conta dele. E também outras tantas que seus sobrinhos, meus primos de segundo grau que moram aqui e que por sorte ainda mantemos um otimo contato, contam sobre ele.
Será que se nonno Giuseppe estivesse vivo comemoraria hoje o seu onomastico (festa do nome)?
Será que ele ficaria feliz em saber que eu, de tanto ouvir historias alla italiana, de tanto ouvir e falar italiano desde pequena e de tanto admirar o pais onde ele e minha mãe nasceram fui arranjar um italiano, me mudar para a Itália e quem sabe se ele ficaria feliz em saber que tem uma bisneta italiana?
Pensando bem, acho que ele ficaria é feliz em saber que estamos nos mudando pra Milano, porque acho que ele teria sido o primeiro a me proibir em vir morar em Napoli. Italianos do norte não gostam muito de italianos do sul.
Mas importante é que, mesmo depois de tanto tempo, ainda tenho boas recordações do nonno Giuseppe. E que hoje é dia dele.
Tanti auguri a lui. E tanti auguri para todos os papais 50% ou 100% italianos. Como o papai da Giulia também.